Por muitos anos, a doença de Parkinson (DP) foi clinicamente definida como um distúrbio eminentemente motor, se manifestando com lentidão e redução da amplitude dos movimentos, tremor de repouso, e rigidez muscular. Ao longo do tempo, esse tradicional conceito teve alterações significativas, e hoje, a DP é amplamente reconhecida como um distúrbio complexo com diversas características clínicas.
Entende-se por sintomas não motores, uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e clínicos, reconhecidos como sendo próprios da doença, que se tornam cada vez mais presentes com a progressão da DP. A interferência dos sintomas não motores na qualidade de vida é tão relevante quanto o comprometimento motor e, em muitas vezes, incapacitantes.
Apesar do conhecimento atual sobre a DP ter sido melhor delineado somente nas últimas décadas, a descrição da doença por James Parkinson, há 203 anos, já mencionava sintomas não motores, como constipação intestinal, sialorreia (produção excessiva de saliva), disfunção do sistema urinário, e distúrbios do sono. O neurologista e psiquiatra francês Jean Martin Charcot, descreveu ainda no século XIX, sintomas como prostração, fadiga e alterações da memória, presentes na DP. Vários outros estudiosos como Gowers W, Oppenheim H, e Braak H, contribuíram para um maior entendimento dos sintomas não motores, e hoje, já está bem estabelecido que a causa desses sintomas está diretamente relacionada ao processo degenerativo próprio da DP, aos medicamentos utilizados para o tratamento, e às reações emocionais frente à doença crônica.
Os principais sintomas não motores relacionados à doença de Parkinson são, a redução ou perda do olfato, o transtorno comportamental do sono REM, a depressão, e a constipação intestinal. Admite-se atualmente que esses sintomas podem estar presentes anos a décadas antes das dificuldades motoras. Porém, a constelação de sintomas não motores reconhecidos como próprios da DP envolve uma extensa variedade de outros sintomas, embora isso não signifique que todos os indivíduos portadores da doença irão manifestar todos estes problemas.
Apesar desse novo entendimento da DP, a abordagem multissistêmica ainda é difícil para muitos médicos, permanecendo variavelmente sub-reconhecida e sub-tratada.
Esse problema é agravado pelo fato de que a maioria dos pacientes não referem espontaneamente tais sintomas, enquanto em muitos casos, o que mais incomoda e interfere nas atividades de vida diária dos parkinsonianos são os sintomas não
motores.
Para cada sintoma não motor existem formas de manejo e tratamento, no qual o envoltório médico-paciente-cuidador deve estar inteirado, objetivando alcançar a melhor terapêutica, individualizando cada caso. Idealmente, é aconselhado uma abordagem multidisciplinar, envolvendo cuidados de fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, e terapia ocupacional. Nas últimas décadas, foram desenvolvidos questionários simples e objetivos para triagem dos sintomas não motores, que podem ser preenchidos antes da consulta médica e facilitar o reconhecimento destes sintomas.
*Esse é um conteúdo de caráter informativo. Qualquer terapia deve ser modificada ou implementada sob a indicação do seu médico
Apoio:
Dr. Filipe Miranda Milagres Araujo
Neurologista
especializado em Distúrbios do Movimento pela USP-RP
CRMMG 57153 / RQE
42850
filipeneuro@usp.br