Texto escrito por Lúcia Helena de Oliveira, colunista do UOL
Eu, que nunca fui lá grande coisa em física — embora, para meu sufoco, a física faça parte da medicina —, pergunto ao neurocirurgião Manoel Jacobsen o que, afinal, seria “modular”. O dicionário tinha me dado, como primeiríssima definição, que o termo “modular” seria algo como regular o tom e a altura da voz quando você fala ou canta.
O médico — professor da Universidade de São Paulo que, com paciência infinita, me deu uma aula particular por estes dias —, respondeu seguindo com o exemplo sonoro. “É aperfeiçoar um sistema para tirar a sujeira ou o ruído. Como quando você sintoniza uma FM para ouvir música: por ser uma frequência modulada de ondas de rádio, você ouve muito melhor cada instrumento, sem a interferência de sons estranhos”, me explicou. Entendido. Mas aqui a ideia de modular seria a de tirar os ruídos na conversa entre os neurônios do cérebro. E, no caso específico, de quem tem Parkinson.
A neuromodulação, para muitos, é considerada uma das maiores promessas da medicina para os novos tempos. Tem sido usada com sucesso para tratar dores difíceis de lidar, problemas de tônus muscular, distúrbios comportamentais ou da fisiologia do aparelho digestivo e urinário —”há até trabalhos sobre o seu uso no controle do apetite”, me conta o professor.
Quando focamos no Parkinson, o mais certo é a gente falar em estimulação cerebral profunda ou simplesmente ECP, porque os neurônios modulados estão localizados no sistema nervoso central. E há quem afirme que, para quem sofre da doença que o cirurgião e farmacêutico inglês James Parkinson (1755 – 1824) descreveu lá atrás, essa terapia poderia significar não apenas um controle imediato da situação, mas ter ainda um efeito protetor, prevenindo o avanço da deterioração das células nervosas por trás de uma série de sintomas, entre os quais os tremores são o menor dos males.
“Isso hoje é apenas uma conjectura. Mas é importante a gente sonhar com o futuro e checar se isso não pode estar acontecendo pra valer. Seria a melhor notícia”, diz o neurocirurgião que, aliás, já sonhou outras vezes —que bom! Ainda em 1979, Jacobsen foi o pioneiro no uso dessa tecnologia no Brasil, para não dizer um dos primeiros no mundo, e admite: “Era recebido com cara feia por vários colegas porque era tudo muito novo e causava enorme receio”, recorda.
Tem dado certo. Hoje, o tratamento é até disponibilizado em certas circunstâncias no SUS e, com a evolução da ciência, é bem mais viável do que no passado, sem o paciente ter de carregar no corpo uma geringonça com duas antenas que tornava o sistema, em si, bastante frágil e o dia a dia do cidadão, uma complicação. Nada mais é assim. Agora tudo é compacto, delicado e, o melhor, tudo fica implantado. Outro equipamento, que nem sequer precisa ser encostado ao corpo, faz a leitura a distância se for o caso e permite que o médico ou o próprio paciente saiba o que está acontecendo lá dentro —dentro de sua cabeça, bem entendido. As novas baterias, por sua vez, duram cinco, seis, sete anos. Ou seja, vida mais longa e com qualidade a quem tem Parkinson.
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