Reconhecer e tratar os sintomas não motores da Doença de Parkinson é de fundamental importância para estabelecer uma boa qualidade de vida, visando sobretudo, garantir uma maior independência ao paciente, e menor sobrecarga ao cuidador.

A seguir, estarão alguns destes sintomas e forma de lidar:

SINTOMAS NEUROPSIQUIÁTRICOS:

DEPRESSÃO: é o distúrbio psiquiátrico mais comum visto na DP, e está associado a um impacto negativo na qualidade de vida do paciente. Os principais sintomas manifestados são: tristeza, anedonia, e diminuição do interesse pelas atividades. Pacientes com depressão devem receber medicação antidepressiva, e/ou terapia cognitivo-comportamental. O tratamento pode também envolver ajustes de doses das medicações dopaminérgicas.

ANSIEDADE: estima-se que ocorra em aproximadamente 30% dos pacientes.
Todos os tipos de transtornos de ansiedade foram relatados na DP, embora o transtorno de ansiedade generalizada e a fobia social pareçam ser os mais comuns. O tratamento dependerá de como a ansiedade interfere nas atividades e bem-estar do paciente, e envolve uso de medicamentos antidepressivos.

APATIA: a apatia é definida como uma perda de motivação, caracterizada pela diminuição da fala, atividade motora, e expressão emocional, geralmente atribuída à disfunção do lobo frontal e do sistema límbico. O tratamento ainda não está bem estabelecido para esta população. Rotineiramente, alguns medicamentos estimulantes do sistema nervoso central, e antidepressivos são tentados.

ALTERAÇÕES DO SONO

TRANSTORNO COMPORTAMENTAL DO SONO REM: é o sintoma não motor mais específico da doença de Parkinson. Caracterizado pela presença de sonhos vívidos, e presença de movimentos complexos durante o sono REM, fase do sono em que o normal é a atonia/paralisia muscular. Os acometidos podem cair da cama, fazer movimentos bruscos, vocalizar. O tratamento inicia-se com orientações sobre os cuidados necessários no momento de dormir. Deve-se evitar objetos perfuro-cortantes ou contundentes próximo da cama, incluindo a proteção de janelas e o uso de leitos mais baixos. Muitas vezes é necessário tratamento medicamentoso.

SONOLÊNCIA EXCESSIVA DIURNA: a sonolência excessiva diurna caracteriza-se por incapacidade de permanecer acordado e alerta durante o periodo da vigília diurna, resultando em períodos irresistíveis de sono. Ocorre em até 50% dos pacientes. As causas são multifatoriais, envolvendo comprometimento das vias sinápticas e dos neurotransmissores (hipocretina, dopamina, acetilcolina e noradrenalina), efeitos dos medicamentos usados no tratamento da DP, ou ainda, dos distúrbios primários do sono, como apneia do sono e insônia. Muitas vezes, a polissonografia contribui para o diagnóstico. O tratamento envolve suspeitar e tratar os distúrbios primários do sono, retirada de medicamentos sedativos, e/ou redução das medicações dopaminérgicas, usadas para a melhora motora da doença. Alguns medicamentos estimulantes do SNC podem ser usados.

SÍNDROME DA APNEIA E HIPOPNEIA
OBSTRUTIVA DO SONO (SAHOS): a SAHOS caracteriza-se por episódios obstrutivos recorrentes nas vias aéreas superiores, associados a dessaturação de oxigênio, despertares e fragmentação do sono. O diagnóstico é suspeitado em consulta médica, e confirmado com a polissonografia. O tratamento envolve o uso de aparelhos de pressão positiva nas vias aéreas, para as formas moderadas e graves. Medidas de higiene do sono, redução de peso, e restrição de medicamentos sedativos devem ser implementadas.

DISFUNÇÃO COGNITIVA

DEMÊNCIA: embora a DP possa coexistir com outras causas comuns de demência, como a doença de Alzheimer e a demência vascular, o comprometimento cognitivo e a demência são cada vez mais reconhecidas como uma característica comum da própria DP. Geralmente ocorre nos estágios finais da doença. É classicamente considerada uma demência subcortical, com lentificação psicomotora, dificuldade de memória e alteração da personalidade. Os déficits no funcionamento executivo (tomada de decisão ou multitarefa), costumam ser os primeiros sintomas manifestados. O tratamento envolve uso de medicamentos, e objetiva controlar os sintomas, não modificando o curso da doença.

SINTOMAS URINÁRIOS

O descontrole urinário é um grande problema para muitos pacientes. Os sintomas mais comuns são, vontade de urinar várias vezes durante à noite, e urgência para urinar. É importante abordar como esses sintomas afetam o quotidiano dos pacientes e como os sintomas de bexiga hiperativa podem ser particularmente desagradáveis. Existem medicamentos capazes de controlarem estes sintomas. Em alguns casos, é recomendado avaliação urológica.

SINTOMAS GASTRINTESTINAIS

Disfagia (dificuldade para engolir): a maioria dos pacientes não se queixa espontaneamente de dificuldade de deglutição, e individualmente restringe seletivamente a dieta para alimentos pastosos. Engasgos são frequentes, condicionando risco de aspiração. Muitas vezes, a perca de peso se deve adicionalmente à esses sintomas. Além de ajustes medicamentosos, o acompanhamento fonoaudiológico é primordial.

Sialorreia (produção excessiva de saliva): pode ser consequência da dificuldade de deglutição.
Novamente, a fonoaudiologia tem papel central no tratamento, e adicionalmente, poderá desenvolver um trabalho para fortificar a voz, que nestes pacientes normalmente está enfraquecida. Existem boas opções de tratamento medicamentoso, dentre eles, a aplicação de toxina botulínica.

Constipação intestinal: presente em cerca de 80% dos pacientes, é habitualmente o sintoma mais precoce, podendo anteceder as manifestações motoras em até 20 anos. Ocorre devido ao processo neurodegenerativo, e posteriormente, agravado devido ao uso de algumas medicações. O tratamento envolve medidas não farmacológicas, com uma dieta rica em fibras (40 a 70g/dia), aumento da ingesta hídrica, exercícios físicos regulares, e massagens abdominais. Em muitos casos é necessário o uso de laxativos.

SINTOMAS AUTONÔMICOS

HIPOTENSÃO ORTOSTÁTICA: é a queda da pressão arterial ao se levantar, podendo preceder ou até mesmo levar à síncope (“desmaio”). É um sintoma muito comum, porém, pouco referido aos médicos. O tratamento envolve a prática regular de exercício físico, e uso de meias de compressão nas pernas. Se orientação médica, pode-se aumentar ingesta de sal e água, e programar a suspensão de possíveis medicamentos que podem estar contribuindo para o problema. Se mesmo assim os sintomas persistirem, medicamentos específicos podem ser indicados.

DISFUNÇÕES SENSITIVAS

HIPOSMIA (REDUÇÃO DO OLFATO): é o sintoma não motor mais sensível da DP, pois ocorre em até 90% dos acometidos pela doença, e podem estar presentes anos antes dos primeiros sinais motores.

DOR: é uma queixa comum nos pacientes com DP, e também pode estar presentes anos antes da fase motora. Porém, ocorre mais comumente na fase em que os sintomas motores estão avançados. A causa é multifatorial. As principais queixas são, dor lombar, cãibras, e dor articular.
O tratamento em geral envolve otimização das doses dos medicamentos antiparkinsonianos, e fisioterapia. Medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios podem ser usados quando indicados. Um ponto essencial a abordar, é a conhecida e associação entre dor e sintomas depressivos.

OUTROS SINTOMAS NÃO MOTORES:

Psicose, fadiga, dermatite seborreica, parestesias

*Esse é um conteúdo de caráter informativo. Qualquer terapia deve ser modificada ou implementada sob a indicação do seu médico

Apoio:
Dr. Filipe Miranda Milagres Araujo

Neurologista
especializado em Distúrbios do Movimento pela USP-RP

CRMMG 57153 / RQE
42850

filipeneuro@usp.br